Emily Ewell, CEO e fundadora da Pantys: “A sustentabilidade é um compromisso sem fim”

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“Sempre gostei da dualidade do mundo da saúde: é um mercado de bilhões de dólares, mas também é um direito humano”, diz Emily Ewell, CEO e fundadora da Pantys, a marca de roupa interior sustentável e produtos de higiene femininas com foco em saúde.

Chegou ao Brasil faz 10 anos da Suíça para um trabalho de desenvolvimento de aplicativos para a farmacêutica global Novartis e se enamorou da cultura de inovação e criatividade, como também pelo fato de que o país é um dos poucos do mundo com cadeias de produção inteiras de várias indústrias.

Assim, fundou a Pantys em 2017, com o foco inicial de desenvolver calcinhas menstruais para substituir absorventes. Cada ano, mais de 15 bilhões absorventes são descartados no Brasil que demoram mais de 500 anos para decompor. Com as calcinhas da empresa, uma pessoa pode utilizá-la pelo menos 100 lavagens.

Além disso, a fundadora observou o problema de disponibilidade de produtos menstruais no Brasil, em que uma de quatro meninas não tem acesso. Então, com um dos produtos da companhia, poderia ter este problema resolvido por 10 anos.

Atualmente a Pantys é uma empresa B certificada e se expandiu a outros mercados como a Reino Unido, França e Holanda e tem objetivos de chegar a outros países da América Latina.

– Me poderia contar um pouco mais especificamente quais foram os pilares de ESG de quando fundaram a companhia?

– A primeira proposta da ESG foi pensar no ambiente: evitar o lixo gerado por menstruação e pensar na mulher em uma experiência mais confortável e criar uma melhor qualidade de vida para ela.

Mas começamos a ver que precisamos fazer mais que isso. Então, estudamos o ciclo de vida do nosso produto para entender realmente qual é a sua emissão de carbono. Contratamos uma agência certificada para fazer esse mapeamento total, desde matéria prima, embalagem e transporte, até o uso e descarte.

Também trocamos todos nossos materiais a tecidos biodegradáveis, baseado em uma tecnologia brasileira inovadora. No lugar de demorar 100 anos para decompor, demora três.

No lado social, começamos em 2019 doações focadas na pobreza menstrual. Todos os meses fazemos doações e deixamos aos nossos consumidores ajudar: por cada pessoa que faz um post marcando à Pantys, fazemos uma doação e avisamos a qual ONG foi doado o produto. Gostamos de levar essa informação para que não seja só a Pantys que faz um impacto, mas que a nossa comunidade também esteja engajada.

Se vemos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), nós focamos em igualdade de gênero, mudança climática e cidades mais sustentáveis. Por exemplo, fazemos doação a lugares indígenas, onde não tem coleta de lixo e não tem um lugar para jogar absorvente usado, pelo que jogam na floresta ou tem que queimar.

Acabamos aprendendo muitas outras coisas sobre o ecossistema da Pantys. Por exemplo, o Brasil tem uma das piores taxas de gravidez adolescente: o 18% da gravidez são de meninas de 15 até 19 anos, que é chocante. Então, lançamos uma plataforma open source para a educação sexual no Brasil focado nas escolas públicas. Qualquer escola pode cadastrar e a gente manda esses materiais e produtos para a menstruação.

Não tem diretamente que ver com a menstruação, mas é parte do ciclo reprodutivo da mulher, e nós vemos que esta situação afeta diretamente a paridade de gênero, pelo que trazemos a educação como um pilar de impacto.

– Além da divulgação sobre a informação de doações feitas, que outras ações de transparência fazem?

– Fazemos uma etiqueta de carbono para cada produto, como se fosse uma etiqueta de nutrição. Fomos a primeira marca de moda no Brasil a falar sobre isso e fazer esse mapeamento.

Também nós fazemos um relatório de sustentabilidade anual, um fechamento de todas as ações da marca, sobre como estão ligados com os ODS e aos objetivos do Sistema B.

A Pantys é uma empresa startup, pelo que não tem nenhum investidor, nem interesse privado que possa distrair nossos objetivos como empresa. Então, toda a parte financeira da empresa é privada, mas todo o resto divulgamos sem nenhum problema pelas redes sociais, emails e esse fechamento ao final do ano.

– No final, a Pantys é uma empresa de varejo. Como atinge o equilíbrio entre o preço final e os critérios de sustentabilidade e investigação?

– Isso é uma decisão totalmente financeira. Mas a gente não coloca o custo do impacto dentro do produto, mas no nosso orçamento operacional. Nós temos claro o teto para investir e sempre estamos monitorando e ajustando as atividades.

O orçamento menos fixo é das doações. Em alguns meses fazemos muitas doações e em outras menos. Então devemos monitorar e, se precisarmos, quebramos a doação em vários meses para não atrapalhar a parte financeira da empresa. Porque se a empresa não é saudável no lado financeiro, não conseguimos ter um impacto sustentável.

– Qual é o papel da tecnologia para o cumprimento dos critérios de ESG?

– A tecnologia é muito importante. Sempre falo que não existe uma empresa ou produto 100% sustentável, mas se logra maior sustentabilidade melhorando cada dia um pouco. É um compromisso sem fim.

Então a tecnologia é muito importante para nós, porque se sai novos processos, tecidos, jeitos de transporte, isso abre muitos caminhos para nós diminuir o nosso impacto negativo e aumentar o impacto positivo. Acho que toda empresa não pode só “check the box”, mas tem que sempre ficar procurando as novidades para estar na frente da inovação no lado da sustentabilidade.

– Quais são as maiores debilidades da Pantys no tema da ESG?

– Uma coisa importante para a evolução de toda empresa é ter mais metas de impacto. Nós temos algumas metas, como de doação e de emissão de carbono, que eram muito importantes desde o início. Mas, pensando na evolução da empresa, devemos estruturá-las um pouco mais.

Por exemplo, devemos pensar no consumo da água e da eletricidade e como podemos otimizar nossa cadeia de produção para ser mais local e diminuir nossa emissão de carbono. Esses são desafios mais técnicos e com maior complexidade.

A sustentabilidade também deve embutir na cultura da equipe. Então, entregamos copos reutilizáveis portáveis a todos para substituir copos de plástico para café ou água. São coisas simples, mas faz a diferença até na mentalidade da equipe para conseguir, inclusive, a capacidade de pensar em outras ações de sustentabilidade.

Outro desafio é a comunicação final aos consumidores. Por exemplo, nem todos sabem o que é a etiqueta de carbono. Devemos fazer bastante educação em coisas novas ou diferentes para que as pessoas valorizem isso.

– Quais são os próximos passos da Pantys no ESG e nos negócios?

– O próximo passo é o mapeamento de emissão das outras áreas de consumo da Pantys. A gente já fez o carbono, agora estamos fazendo em água, toxinas e coisas que não estão contabilizados ainda. Também criamos outros projetos, como recolher calcinhas já usadas para reciclagem e aportar à economia circular.

Ao lado de negócios, estamos focados na expansão de mercado e de portfólio. Esses são nossos dois focos para conseguir levar mais produtos às comunidades e entrar a novas comunidades. Mas isso tem muitos desafios também, como adaptar para cada mercado, entender os maiores players e parceiros por lá. Mas vamos chegar lá.

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