Christiano Coelho – Head de Sustentabilidade Empresarial do Inter
Quando o Banco Inter, logo após sua abertura de capital na bolsa de valores do Brasil (B3), migrou todas as suas operações à nuvem, corroboraram seu impacto medioambiental. Segundo Christiano Coelho, o Head de Sustentabilidade Empresarial da organização, “esse movimento tornou nosso modelo de negócio muito eco-eficiente e escalável, e também nos deu um senso de responsabilidade ainda maior”.
Assim, nos inícios de 2019 criaram um setor específico de Sustentabilidade, que iniciou seus trabalhos medindo e entendendo o status de sustentabilidade da companhia.
Uma dessas ações foi o Inventário de Emissões Atmosféricas, onde constataram que as suas emissões por cliente, que hoje o banco conta com mais de 25 milhões. Segundo o relatório anual de 2020, o banco emitiu 9,5% em comparação com as emissões de bancos com agências físicas e atualmente a cifra, segundo o executivo, a cifra é de apenas 4,6%.
No mesmo ano, estruturaram a área de Responsabilidade Social, que atua com Investimento Social Privado e com voluntariado corporativo e que, desde que foi fundado, investiram mais de R$ 7,6 milhões e impactaram mais de 650 mil pessoas.
Mas além dos projetos de redução de emissões e de responsabilidade corporativa, a companhia começou a avaliar o seu próprio modelo de negócio, produtos e ações. Assim, realizaram a primeira Escuta aos Stakeholders para iniciar seu processo de integração dos critérios de meio-ambiente, sociedade e governança (ESG, pelas siglas em inglês).
Isso resultou numa Materialidade, que são os temas mais relevantes às partes interessadas do banco, no que tange aos riscos e oportunidades do seu modelo de negócio, e que se atualiza por cada nova escuta. Com a materialidade, os tomadores de decisão têm maior facilidade de perceber os principais riscos e oportunidades para cada vertical de negócio e áreas de suporte.
Após esse diagnóstico, é feita uma Integração ESG em alinhamento com as lideranças, na qual são endereçados os principais riscos e oportunidades das cinco verticais de negócios (crédito, investimentos, banking, seguros e shopping) e áreas estratégicas.
Em 2021 realizaram uma nova Escuta que apontou oito temas como materiais: Experiência do Cliente; Desempenho Econômico; Inovação e Negócios; Educação Financeira; Diversidade e Igualdade; Ética, Integridade e Transparência; Privacidade e Segurança Digital; Marca e Reputação.
– Falemos do longo prazo: já que a inversão no ESG é investir no futuro. Mas tradicionalmente, os investidores preferem ingressos rápidos. Como fazem para competir com outros bancos ou fundos de investimentos e convencer os seus clientes de que o caminho é o ESG?
– Acreditamos que o cliente sempre deve ter a liberdade de escolha para alocação de recursos. Então, procuramos sempre evoluir em nossa estratégia de sustentabilidade, para engajar nossos stakeholders externos rumo ao desenvolvimento sustentável.
Para isso, focamos na integração ESG dois tópicos: Crédito Sustentável e Investimento Sustentável. Eles não foram apontados como materiais por nossos stakeholders, mas foram endereçados à nossa agenda estratégica devido à sua relevância e impacto.
Realizamos benchmarking ESG de melhores práticas nessas linhas de negócio. Um exemplo dos resultados obtidos foi o Relatório Sonar ESG, que aponta o status ESG das companhias da nossa carteira recomendada.
Participamos no estruturamento e coordenação da captação de R$ 56 milhões pela RZK Energias, uma desenvolvedora de projetos para Geração Distribuída (GD), por meio de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) no mercado de capitais, que serão investidos em energia solar e biogás.
Internamente, criamos uma Política de Investimentos ESG para a Inter Asset, atualizamos a política de risco de créditos para incluir ESG. Em 2021, a nossa Asset se tornou signatária do Principles for Responsible Investment e dos Investidores pelo Clima.
– Qual foi o papel dos líderes da companhia na implementação de projetos de ESG e na alienação dos stakeholders do banco para que se envolvam no projeto? Tem você relação direta com os líderes da companhia e tem as facilidades de tomar decisões drásticas para as ações de sustentabilidade?
– A agenda ESG é hoje amparada por um Comitê Estatutário, formado por Diretores e Conselheiros do Inter, pelo que a agenda encontra pleno respaldo institucional e permite uma tomada de decisão madura diretiva para as ações. A liderança tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento da agenda de sustentabilidade.
A agenda conta de uma área dedicada há bastante tempo, com acesso pleno ao comitê e à diretoria e tem realizado papel fundamental para orquestrar importantes movimentos de ESG no Inter. O mesmo podemos dizer das agendas de governança corporativa, compliance e recursos humanos (RH), que também são pilares fundamentais da agenda.
Em outra temática, quando realizamos nossas Escutas aos Stakeholders, nossas principais lideranças de negócios e suporte organizacional monitoram e engajam as partes interessadas, como também realizam um trabalho de priorização para ponderação das respostas da Escuta. As respostas dos stakeholders internos são setorizadas para obter diagnósticos assertivos no cruzamento de respostas entre grupos respondentes internos e externos.
– Qual é o papel da tecnologia na aplicação dos objetivos de ESG?
– Todo avanço ESG que colocamos em prática, tem necessariamente a tecnologia como driver de processos e oferta final da Inter, uma empresa integralmente digital, que oferta seus produtos e serviços através de um Super App.
Utilizamos robustamente a tecnologia em nossos processos internos, desde o armazenamento em nuvem de nosso aplicativo, processos e sistemas, até a digitalização de documentos e as assinaturas em formato digital. As decisões são tomadas em ambientes automatizados, com inteligência de dados que apoia as tomadas de decisão e acesso a informações.
Todas as áreas do Inter se amparam por sistemas e tecnologias de alto padrão, que tornam nossos processos mais sustentáveis, ágeis e coesos. Por exemplo, na governança corporativa, compliance e riscos, possuímos sistemas que permitem controles fortes e de acesso seguro das informações, permitindo assim um processo de tomada de decisão mais sólido e assertivo.
– Quais são os aspectos do critério de ESG que você acha que o Banco ainda tem dificuldades para cumprir? Por exemplo, realizar reportes de ESG ainda é um problema comum no mundo porque não está estandardizado e diferentes stakeholders exigem diferentes informações.
De fato, a comparabilidade pode ser um entrave nos caminhos de evolução e transparência em ESG. Por isso, constantemente pesquisamos e aderimos aos principais e mais abrangentes frameworks de reporting disponíveis no mercado, como o GRI, SASB e IIRC, buscando transparência e excelência aos nossos reportes aos stakeholders.
No entanto, algumas frentes ESG ainda estão em período de descoberta e desenvolvimento, rumo a tangibilização de KPI´s objetivos. Um dos mais desafiadores é relacionado a Governança Climática, pelo que, desde 2022, estamos junto a consultoria externa trabalhando para desenvolvermos uma estratégia, programas e projetos voltados ao tema.